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Arquitetura Moderna
Atualizado em: 02/05/2025 às 00h45
Entrevista Arnaldo Grecco Muniz
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Entrevista com o arquiteto Arnaldo Grecco Muniz, realizada em 18 de maio de 2007, na cidade de Passos (MG).
 
Entrevistadores: Mauro Ferreira e Douglas Oliveira Santos
A entrevista foi realizada no escritório do arquiteto
 

- Conte para nós um pouco da sua biografia.

Nasci em Guaxupé. Em 1940, formei em Guaxupé no ginásio em 1955, fui para São José do Rio Pardo, no estado de São Paulo, pois na época não tinha o científico em Guaxupé. Fiz somente o primeiro ano em São José do Rio Pardo e no outro ano estava em Belo Horizonte, terminando o colégio. Entrei na escola em 1960 e me formei em 1966.
Desde criança eu falava que seria Engenheiro. Eu pensava que Engenharia era fazer ponte. Mas eu também gostava de desenhar, mexer com casas, olhar detalhes de casas, o porquê que se fazia tanta diferenciação, uma fachada assim, outra diferente. Eu ficava imaginando como é que as pessoas criavam aquilo. Naquela época tinha um estilo muito próprio, aquelas casas com alpendre, todas as casas tinham alpendre, e o telhado era a parte diferencial. Fazia-se o alpendre e a parte diferencial era o telhado. Fazia o estilo duas águas, colocava-se um relevo, diferença de plano, era o que chamava atenção.
Eu fui pra Belo Horizonte pra fazer Arquitetura mesmo, cheguei lá me identifiquei, fui na UFMG. E um ano antes de tentar o vestibular para Arquitetura eu tentei o vestibular para administração de empresas, quis dar uma desviada, fiz o vestibular, mas vi que eu tinha que pegar a Arquitetura mesmo. Fiz um cursinho que tem na UFMG mesmo, e entrei na faculdade para fazer Arquitetura mesmo. Comecei a cursar em 1962, para me formar em 1966.
Naquela época identificava-se muito Engenharia com Arquitetura. Onde era a nossa escola funcionou a primeira escola de Belas Artes, lá não tinha o campus, a escola de Engenharia era lá perto da estação (ferroviária), era em unidades diferenciadas, mas mesmo assim a escola que cursei continua no mesmo lugar.
Eu fiz o curso, gostei, mas no começo eu fiquei meio preocupado, até queria me mudar pra Brasília, naquela época da construção de Brasília, estive lá umas duas vezes para visitar a cidade.
 

- Você se lembra de algum professor que te influenciou nessa época, Silvio Vasconcelos estava lá? Na época, quem você acha que influenciava mais os alunos?

O Silvio Vasconcelos era professor nosso. Tinha a professora Susy que era muito exigente, dava aula de Arquitetura 1 e 2, o professor Hardy (o Veveco das músicas do Milton Nascimento, observação do entrevistador) que dava aulas de perspectiva e sombras.  Eu tive uma parte diferenciada na parte artística, de planejamento, com a parte física, matemática, onde nós tivemos o professor Jaime Ferreira, que era catedrático na área de cálculo, ele sabia tanto que ele achava que a gente acompanhava o raciocínio dele, mas era uma pessoa muito prática, ele fazia com que você enxergasse a construção na parte estrutural dela, ele te dava uma fórmula, uma maneira de você entender como funcionava a estrutura.
 

- O seu diploma é de Engenheiro-Arquiteto?

Sim, Engenheiro-Arquiteto, o Oscar Niemeyer também é Engenheiro-Arquiteto, antigamente existia esse título, hoje já não é mais assim. E o termo Engenheiro-Arquiteto justifica-se pelo fato de que nós, na construção, nós passávamos por tudo, desde as fundações aos detalhamentos.
 

- A escola era em período integral?

Em período integral, e os professores mesmo incentivavam a gente a formar conjuntos de alunos para fazer pesquisas nas construções, onde na maioria das vezes os professores mesmos que eram os encarregados das construções, e nós íamos acompanhar as obras desde o começo. Alguns professores diziam pra gente observar melhor o detalhamento, parte de serralheria, parte de porta, caixilho, e isso tudo pra nós foi muito importante porque eles faziam a gente enxergar que o detalhamento é um da maior importância numa construção, porque você vê o conjunto mas não vê o detalhe. Eles faziam a gente pesquisar o porquê usar determinado material, se usou o material x ou y, porquê você usa tal porta, porque ela tem que ter acabamento. Isso serviu para nós, para que na hora em que fossemos fazer um detalhamento de orçamento, nós soubéssemos que uma porta tem 3 ou 4 especificações. Isso só teve a contribuir no que eu mais gostava, eu estava sendo um pesquisador de detalhamento.
 

- Com isso você fez algum estágio durante o curso?

Fiz muitos estágios, mas em construção direto, tinha o Paulo Henrique que era um cara que trabalhava com materiais de construção, ele fazia a gente enxergar o material, e a colocação na obra, como estocar o material na obra, como administrar o material na obra.
 

Você formou em 1966, depois disso você foi fazer o que?

 Durante o curso eu já dava aula no Senac, aula de matemática, de desenho, de perspectiva, e fazia isso para sustentação do meu dia-a-dia, formei e continuei dando aula em Belo Horizonte, até o fim de 1969, em 1970 que eu vim para Passos. E nesses 3 anos em Belo Horizonte eu só dava aula, não trabalhava como arquiteto. Porque naquela época de revolução ainda tinha muita repressão ainda, foi a época em que a arquitetura deu uma estagnada, porque depois de Brasília, Brasília que foi um marco na arquitetura brasileira, acabou um pouco o brilho, a inspiração dos arquitetos.
  

- Você veio para Passos, para construir o Muarama Clube?

Como eu sou de Guaxupé, nas minhas férias eu ia pra lá, e em Guaxupé tinha um Engenheiro-Arquiteto, Mário Gonçalves, já com 15 anos como profissional, e nessa época ele estava dando uma assistência aqui na Prefeitura de Passos. Ele vinha 2ª e 3ª feira para Passos, e ele me ofereceu de construir o Muarama Clube aqui em Passos, eu não pensei nem dois segundos, aceitei na hora. Enquanto eu fazia a faculdade eu tinha a idéia de lançar um clube em algum lugar, e com o clube pode ser minha fase inicial, porque a gente não pensa na parte só profissional, a gente pensa na parte financeira também. Nisso, eu já fui a Belo Horizonte, pedi meu afastamento no Senac, e já vim pra Passos com tudo pronto, com projeto pronto, a maquete, elaborei o projeto todo em Belo Horizonte, mas já tinha o terreno aqui, já sabia como seria. A história desse clube é a história da minha vinda pra Passos, por causa dele que eu fiquei aqui em Passos. O projeto arquitetônico foi todo meu, o cálculo estrutural foi do Bedram, lá de Belo Horizonte. E toda a execução da obra foi minha. Os arcos a gente montava embaixo, com as lajotas pré-fabricadas, a gente moldava e levava pra cima. Resumo: o clube demorou pra ficar pronto, em torno de 4 a 5 anos. Eu participei mesmo no 1º e no 2º ano, daí pra frente uma outra empresa pegou o projeto.
 

A partir de quando você efetivamente ficou em Passos?

Durante o projeto do Muarama Clube eu já tinha o meu escritório aqui em Passos, na praça da Matriz. E comecei a trabalhar nas cidades da região, como eu era de Guaxupé, o pessoal já tinha conhecimento do tal Engenheiro-Arquiteto Arnaldo, daí eu montei um escritório em Guaxupé, um em São Sebastião do Paraíso e com o aqui de Passos, eu tinha 3 escritórios. Eu liderava aí umas 25 cidades, uma parte do estado de São Paulo, e eu rodava por aí, nessas cidades, e a gente vai percebendo as mudanças, em São Sebastião do Paraíso eu era muito requisitado, o pessoal queria um arquiteto novo, com novas idéias.
  

- Quais projetos aqui de Passos que são mais importantes, que considera bons projetos?

O Muarama Clube é a minha vida. Depois do Clube, a primeira casa que eu fiz foi a casa do Dr. Ricardo na Praça do Rosário, ao lado do Fórum, logo depois da construção do Clube. O Hotel Presidente foi um projeto do João Batista, mas eu que fiz a parte administrativa toda, era para ser apartamentos, eu que mudei para hotel. A segunda foi o INPS, mas também foi de outro colega meu, Marco Antonio, mas fui eu quem fiscalizou a obra. Depois disso, na rua Presidente Antonio Carlos, fiz o prédio do Joaquim Ourives, e mais um ao lado, e depois foram algumas casas, teve uma do Dr. Lino, no loteamento Dona França, uma casa com aquelas telhas taguá, por volta de 1980 mais ou menos.
 

- E obras relevantes fora de Passos?

Em São Sebastião do Paraíso fiz muitas obras, Carmo do Rio Claro, Alpinópolis, Cássia. Em São Sebastião do Paraíso fiz uma casa do França, irmão do Luís Tonin, ao lado do Fórum, de esquina, foi uma das únicas obras que eu consegui fazer inteira, com detalhamento.
 

- Qual seu método de trabalho?

Naquela época não tinha computador, e era tudo na mão. E pra ficar diferenciado, para chamar a atenção do cliente, eu fazia a perspectiva colorida, e aquilo fazia com que a pessoa visse sua casa pronta, aquilo saltava aos olhos do cliente. Esse foi o principal método que utilizei pra desbravar o mercado de trabalho.
Naquela época o cliente já vinha com um rabisco, um anteprojeto, feito até mesmo pelo pedreiro, pra ficar mais barato, e quando eu mostrava pra ele o projeto com aquela casa colorida, aí que eles começaram a entender o que era a função do arquiteto. E foi assim que começaram a surgir mais trabalhos.
 

- Quais trabalhos de outros arquitetos que você conheceu?

Naquela época já tinha uma certa influência do Paulinho Pimenta, que já tinha muitos projetos aqui, ele já tinha nome aqui, eu entrei na faculdade e ele já estava formando. Ele impunha o próprio estilo nas construções, ele fazia o que ele queria. Não tinha muito contato com o Paulinho, só cumprimentava-o, quando nos encontrávamos conversávamos alguma coisa sempre ligada à arquitetura.  E a esposa do Paulinho a Stela, formou um ano na minha frente.
 

- Você conheceu o Daude Jabbur?

Não tive o prazer, quando me mudei pra Passos ele tinha falecido no ano anterior. Ele quem tinha feito o projeto da Igreja da Penha, como ele faleceu o Monsenhor Matias me procurou e eu passei a ser o responsável técnico. Mas o projeto estava todo pronto, detalhado.
 

- Como você gosta de realizar suas obras?

Eu mesmo faço o cálculo, já fiz até projeto elétrico, mas hoje não faço mais, a minha obra eu pego e fecho o pacote. Eu, particularmente sei que a estrutura me vale muito na hora de projetar, porque na hora que estou projetando, eu sei que sai lá de baixo, eu vou pensando como eu vou resolver aquela coisa mais diferenciada .
 

- Você passou dificuldades para se firmar em Passos como arquiteto?

Quando eu vim pra Passos eu montei um escritório até bonito pra época, o primeiro logotipo de Passos foi o meu, e agora é só abrir que vem surgindo trabalho, passou o primeiro mês, segundo mês, terceiro mês, eu peguei a Prefeitura de Pratápolis, e eu que dava assistência lá, e isso me manteve aqui por um tempo. Mas eu comecei a ficar preocupado com isso, porque não entra serviço, passou um ano e nada de serviço. Ai, depois de um ano apareceu o professor Buglê, é uma casa perto da Cooperativa, e essa casa o projeto era meu e o cálculo era do Mário Gonçalves de Guaxupé. Eu procurei saber porquê o pessoal não vinha atrás dos meus serviços, é que na época tinha muito projetista licenciado, construtor licenciado, não era arquiteto nem engenheiro, era uma pessoa leiga mas que tinha credencial do CREA para projetar, pra administrar a obra. Eu ainda peguei essa época. Por isso que as construções daqui eram umas construções simplificadas.
 

- Como que você fez para driblar esses projetistas?

Veio uma luz, eu comecei a chamar o pedreiro aqui no escritório. Porque eu fazia um rascunho ou um anteprojeto, entregava pro proprietário e ele não voltava, nisso eu já sabia que tinha alguma coisa estranha. Quando eu ia fazer o projeto, eu falava assim: “eu não vou te entregar não, manda só o pedreiro aqui”, ai vinha o pedreiro, e no conversar com o pedreiro eu mirava nos olhos dele, e via que eles estavam com dificuldades em ler o projeto arquitetônico, não estavam entendendo, então qualquer coisa diferenciada que eu fazia eles não entendiam, e longe de mim eles falavam pro proprietário que o projeto ia ficar muito caro. E falar isso pro proprietário, ele murcha na hora. Nisso eu comecei a forçar o pedreiro a entender o projeto, mostrava pra ele que podia ser feito de tal maneira, foi aí que veio a primeira reação de um pedreiro, ele abriu aquela cara de espanto, de que entendeu, e aí eu comecei a falar de outra parte da estrutura, e o que você precisar ai eu estou a disposição, esse foi o primeiro, daí por diante eu só faço assim, e até hoje grande parte dos pedreiros não sabem ler uma planta arquitetônica. E se não tiver acompanhamento eles mesmos modificam. Eu passei a entender que o problema não é a arquitetura. Daí que apareceram os serviços, em Guaxupé, em Paraíso. No meu escritório aqui, eu cheguei a formar cinco desenhistas trabalhando direto comigo.
 

- Quanto por cento do seu trabalho foi mesmo de arquitetura?

Eu devo ter aplicado uns 12% da arquitetura mesmo, aquela que você faz o projeto, o detalhamento, o memorial descritivo pro proprietário ir acompanhando. Porque a maioria vai tudo em função do dinheiro, é o poder econômico, o poder imobiliário que interfere demais.
 
Fonte: Conteúdo publicado pela Divisão de Processamento de Dados, extraído em sua inteira integridade, do CD-Rom do Projeto de Pesquisa sobre a Arquitetura Modernista de Passos - MG (gravado e editado em Maio/2010). 


 
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